Em roda de conversa comunicadores indígenas apresentam projetos de mídia popular e livre e trocam experiências sobre a realidade das comunidades amazônicas



No dia 04 de abril, integrando o calendário do abril indígena em Curitiba, três comunicadores da Amazônia estiveram no prédio João José Bigarella apresentando para a comunidade acadêmica o projeto http://pororoca.red/pt/ e o coletivo de radio livre http://xibe.radiolivre.org/

Como pano de fundo a realidade dos povos indígenas, Yanda Zápara abriu a roda de conversa

para nosotros, estar en una universidad pública hablando de nuestro trabajo con los pueblos indígenas es de gran importancia, sobre todo para lo que estoy viendo en Brasil nuestros hermanos indígenas tienen poca visibilidad en este espacio”

Equatoriano, Yanda que é integrante do Projeto “A Nave Vai”1, inserido na rede de comunicadores amazonic@s chamada ‘pororoca’, problematizou a américa latina sob um olhar indígena, a partir das trajetórias de diálogos e percepções no Equador, Peru e Brasil. A rede de comunicadores apoiada pela AMARC(Associação Mundial de Rádios Comunitárias) teve seu início de movimento em sua terra, Puyo, Amazônia Equatoriana. Percorrendo por outros grupos étnicos, terras indígenas e comunidades originárias, ele abordou os espaços e as possibilidades de se realizar uma comunicação multiétnica, chamando grande a atenção para a cultura que pulsa em todos estes lugares.

Rádios Comunitárias, festividades como a festa “Pachamama” e atividades de troca de experiências foram os principais espaços que Yanda apresentou em sua trajetória no projeto.

Apresentando fotos e vídeos, destacou também grandes transformações no território amazônico, sejam pelas grandes obras da IIRSA(Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana) como também na presença de multinacionais farmacêuticas e do ramo de cosméticos.

Silvio Ticuna, integrante do coletivo Rádio Xibé e funcionário da FUNAI em Tefé-AM iniciou sua fala caracterizando a cidade de Tefé e as comunidades indígenas que habitam a região do médio solimões. Com foco na educação escolar indígena, discorreu sobre a grande luta que é a organização das comunidades, tendo em vista o avanço do discurso neopentecostal e as transformações culturais que isso acarreta. Nas indas e vindas entre articulações com vereadores e prefeitos das cidades da região, apontou a distância dos representantes do povo(muitas vezes da própria comunidade indígena) com a população.

Ele também comentou como esse contexto político propiciou de alguma forma que algumas pessoas interessadas em organizar uma rádio se encontrassem na UEA (Universidade Estadual do Amazonas) para debater a construção de um coletivo que realizasse atividades de rádio com essas populações.

“ A rádio Xibé surgiu com o CMI-Tefé e pessoas que já tiveram experiências em outras rádios livres no país. O rádio aqui em Tefé e no estado do Amazonas é muito ouvido. Em todo canto, casa, estabelecimento tem gente ouvindo o rádio”

Jonas Miranha do coletivo Rádio Xibé e também comunicador do projeto “A Nave Vai” apresentou algumas fotos do percurso d@s comunicador@s no Peru e no Brasil, demonstrando as singularidades de cada lugar visitado, de cada povo (re)conhecido. Comentou sobre o regime de cheias dos rios, suas viagens de barco, e a relação dos povos com os rios, na pesca e no transporte. Revelou ser xamã de seu grupo, o que o fez estar sempre em atenção nas festividades que participava para as mulheres e homens que praticavam atos ritualisticos. Por fim convidou todos presentes na roda para conhecer sua terra.

Aqui estamos sendo super bem recebidos, espero que vocês possam conhecer nossa terra. Também vou receber muito bem todos vocês.”

roda de conversa

As perguntas dos participantes da roda de conversa para os três foram muito no sentido de compreender mais suas realidades, no entanto o relato e as duas perguntas de Michele, uma associada da AGB Curitiba, coube um debate muito interessante. Ela primeiro relatou sobre as dificuldades de se incluir na grade curricular de ensino a temática indígena e perguntou de que forma é abordado o ensino indígena e se haveria algum tipo de conselho a dar para professoras(es). Também fez uma reflexão sobre a tecnologia como um elemento importante na fala dos três e perguntou de que maneira isso tem auxiliado nos trabalhos deles.

Silvio comentou que o ensino fundamental na educação escolar indígena é totalmente realizado na língua de cada povo, somente no ensino médio é que os estudantes tem a opção de estudarem também em língua portuguesa. Concluiu que o rádio, as fotografias e os vídeos são extremamente importantes pois assim as comunidades podem consolidar sua cultura. Comentou que há pouco tempo há jovens ribeirinhos que estão construindo uma associação de cinema popular indígena, chamado fogo consumidor, onde existe já uma produção cinematográfica exclusiva sobre a cultura indígena da região de Tefé.

A roda de conversa foi organizada pelo Coletivo de comunicador@s Rádio Gralha, pelo Coletivo Anarquista luta de classe, com apoio do Núcleo de Estudos em População e Território, da Associação de Geógrafos Brasileiros seção Curitiba e da Associação Mundial de Rádios Comunitárias.

A nave vai foi uma espécie de escola itinerante, em que os jovens de diferentes localidades do trajeto se reuniram em Quito no Equador e foram viajando juntos durante um mês e meio até Tefé-AM. No percurso o grupo todo teve a oportunidade de conhecer as comunidades e cidades dos demais participantes, bem como suas lutas, mídias alternativas e problemas sociais enfrentados. https://vimeo.com/145466380

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